sábado, 24 de maio de 2008



Eu não poderia deixar postar essa notícia e de muito menos deixar de dizer o quanto me emocionei ao ver esse video que deixo como presente para você, que não lê esse blog. Quero deixar guardado aqui o momento em que o cinema conseguiu atingir sim, o objetivo de transpor a literatura para a realidade imagética. É muito bom exergar na tela o que era somente dado da nossa da imaginação. As lágrimas de Saramago provam que tudo isso foi feito de maneira certa, do jeitinho pra se encaixar nas nossas retinas e chegar até o nosso coração.



Fernando Meirelles, para a Folha De São Paulo

Depois de uma semana que pareceu uma verdadeira montanha russa emocional, saí de Cannes no sábado e fui para Lisboa mostrar o filme "Ensaio sobre a Cegueira" para o autor da história, José Saramago.
Por meses, antecipei o quanto a sessão me deixaria ansioso -e não estava errado. Infelizmente, o cine São Jorge, que nos foi reservado, não tinha projeção digital, então foi improvisado um sistema para passarmos nossa fita. Pensei em desistir de mostrar o filme ao ver um teste da projeção, mas o escritor já estava na sala de espera e, em respeito ao compromisso, achei melhor ir em frente.

Sentei-me ao seu lado, expliquei aos poucos amigos presentes que só havia legendas em francês e começamos a ver o filme. Sofri cada vez que uma imagem não aparecia ou que uma música mal soava. Ele assistiu ao filme todo mudo e sem reação nenhuma. Ao final da sessão, quando os créditos começaram a subir, sua mulher, Pilar, debruçou-se sobre Saramago e me agradeceu, emocionada. Silêncio ao meu lado. Antes de terminar os créditos principais, as luzes do cinema foram acesas, eu ousei olhar para o lado e vi que ele fitava a tela sem reação, como se estivesse interessado no nome dos assistentes de cenografia que passavam.

Deu tudo errado, pensei. Toquei seu braço levemente e lhe falei que ele não precisava comentar nada naquele momento, mas, então, com uma voz embargada, ele me disse, pausadamente: "Fernando, eu me sinto tão feliz hoje, ao terminar de ver este filme, como quando acabei de escrever "O Ensaio sobre a Cegueira'". Apenas agradeci e ficamos ali quietos. Dois marmanjos segurando as próprias lágrimas em silêncio. Ele passou a mão nos olhos, disfarçando a sua. Pensei no meu pai. Emoção sólida, dessas que se pode cortar em fatias com uma faca. Num impulso, beijei sua testa.

Na conversa e no jantar que se seguiram, ele disse que não considera o filme um espelho de seu trabalho e que nem poderia ser assim, pois cada pessoa tem uma sensibilidade diferente.
Disse ter gostado da experiência de ver algo que conhecia, mas que, ao mesmo tempo, não conhecia. Falou que o filme não era perfeito, mas que nunca havia assistido a um filme perfeito. Comentou algumas imagens que o emocionaram especialmente e disse ter achado o nosso Cão das Lágrimas muito doce; preferia que fosse mais agressivo.

Quando lhe contei sobre as críticas favoráveis e contrárias ao filme em Cannes, incluindo a da Folha, ele imediatamente lembrou e recontou aquela historinha do velho que vem puxando um burro montado por uma criança. Um passante vê aquilo e acha absurdo a criança estar montada enquanto um velho caminha, então eles invertem a posição. Outro passante cruza com o grupo e reclama da situação: "Como um adulto deixa uma criança a pé enquanto vai confortavelmente montado?".

Então, os dois montam no burro, mas alguém acha aquilo uma crueldade com um animal tão pequeno.
Finalmente, resolvem ambos carregar o burro nas costas, até que outro passante observa como são estúpidos por carregar o animal. E, enfim, o velho decide voltar para a primeira situação e parar de dar importância ao que dizem. "É isso que faço sempre", concluiu o escritor.

Acabo de deixar José Saramago e sua mulher no Ministério da Cultura de Portugal, onde está sendo exibida uma retrospectiva de seu trabalho e sua vida.
Houve uma pequena coletiva de imprensa ali, depois de visitarmos juntos a exposição. Meu filminho de menos de duas horas me pareceu muito insignificante ao ser colocado ao lado daquela obra de uma vida inteira.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Sin City, 2005



Ontem foi Dia Das Mães, portanto deixei como incubência a minha querida progênitora a escolha do filme da tarde de domingo dentre os poucos dvd's que adquiri nas promoções da Loja Americanas. Ela escolheu "Sin City" e não poderia ter sido melhor.
O filme segue uma linha de plena fidelidade a história em quadrinhos escrita por Frank Miller, onde o mesmo é devidido em três histórias que, em alguns momentos, apresentam aspectos e personagens em comum. Filmado interamente em estúdio, a película atende as exigências visuais e gráficas determinadas nas ilustrações dos quadrinhos, fazendo com que esse aspecto torne-se o grande triunfo do filme.
A reconstrução fiel e plena dos diálogos e das narrativas em primeira pessoa concede um filme um ritmo frenético e impressionante, onde as duas horas e alguns minutos passam praserosamente, sem que o espectador consiga dar conta delas.
Dirigido por Robert Rodriguez (mesmo diretor de "Balada do Pistoleiro"), "Sin City" consegue seu titulo de cool entre a febre de adptações de história em quadrinhos bem (e mal) elaboradas pelo mundo do cinema.